Balanço 2009

• Crise não impediu crescimento no setor


Se os efeitos da recessão mundial no Brasil não representaram apenas a famigerada “marolinha” do presidente Lula, é fato também que o País passou longe do verdadeiro tsunami que arrebatou a economia mundial após o estouro da bolha imobiliária americana.

Praticamente todos os setores da economia foram afetados pelo cenário negativo, e o HVAC-R não poderia escapar ileso dessa onda que abalou temporariamente a confiança dos bancos, mercado e consumidores, provocando a chamada crise de crédito.

O setor, no entanto, reagiu de forma rápida e positiva às medidas adotadas pelo governo para driblar a crise, dentre as quais a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para diversos produtos, a criação do Programa “Minha Casa, Minha Vida”, a injeção de recursos no mercado e a continuidade do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

Tudo isso contribuiu para que o País chegasse ao segundo trimestre sem o fantasma da chamada recessão técnica, tendência ratificada nos meses seguintes.

Até mesmo no período em que a crise se fez mais forte no Brasil, o setor da construção – que já havia iniciado uma série de obras, revelou-se uma importante válvula de escape para grande parte das empresas ligadas aos segmentos de aquecimento, ventilação, ar condicionado e refrigeração seguirem produzindo e comercializando suas soluções, embora num ritmo menor.

Com a reação da economia brasileira, a construção civil continuou desempenhando um importante papel para a retomada de diversos setores da economia que fazem parte de sua cadeia produtiva, dentre eles o HVAC-R.

“No primeiro semestre o mercado ressentiu-se da crise econômica vigente. Contudo, medidas governamentais incentivaram os setores alimentício e da construção civil, bem como outros ligados a segmentos industriais que permitiram atenuar os efeitos mais agressivos da crise econômica”, constata o presidente da Abrava (Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento), João Roberto Minozzo.

Segundo ele, o faturamento do setor neste ano deve registrar crescimento de 5%, totalizando R$ 19,1 bilhões – R$ 14,9 bi vindos da indústria, R$ 2,4 bi do comércio e R$ 1,8 bi da área de serviços.

A VISÃO DAS EMPRESAS

“Percebemos que, durante quase todo o primeiro semestre, houve um sentimento de pavor no mercado. Apesar de as previsões apontarem que o Brasil sentiria menos a crise, grande parte das empresas se manteve na defensiva e se preparou para o pior cenário”, analisa o diretor comercial da Termomecânica, Luis Carlos Rabello. “Mas, ao longo do ano, algumas iniciativas nos proporcionaram boas oportunidades de negócios, como os incentivos à construção civil, reduções de IPI e o crescimento das indústrias naval e petrolífera. Hoje, voltamos praticamente aos nossos níveis habituais de atividades”, complementa.

O gerente de vendas local e exportação da Invensys Controls, Fernando Ribas Ferreira, faz avaliação semelhante. “A crise mundial, como em todos os segmentos, afetou nossos negócios até meados de maio. A decisão acertada do governo de ativar a economia por meio de incentivos alterou completamente o cenário negativo, e o segundo semestre demonstrou-se altamente positivo, permitindo o fechamento do ano com crescimento em relação a 2008”, revela.

Na mesma linha, o gerente de negócios Fluorquímicos – Brasil e de Especialidades – América Latina da DuPont, Marcelo Dias, comemora o fato de o mercado estar cada vez mais preocupado em utilizar fluidos refrigerantes de boa procedência. “Em termos de resultados, repetiremos os obtidos no ano passado, embora o ritmo da realização de negócios tenha sido maior em alguns períodos e menor em outros. Um fator importante que favoreceu nosso negócio foi a redução de IPI no setor automotivo e na linha branca, além da crescente conscientização dos clientes em relação à importância da utilização de fluidos refrigerantes de qualidade”, destaca.

Com a mesma percepção, o diretor comercial da Trineva, Alessandro Pereira, afirma que este ano foi excelente para os negócios de sua empresa. “As incertezas do mercado e a sua retração no início do ano fizeram com que a economia nacional fosse mais prudente, mas os negócios foram retomando aos poucos, e com firmeza”, enfatiza.

Mesmo sofrendo com a escassez de linhas de crédito e o baixo volume de investimento do setor empresarial durante boa parte do ano, a Heatcraft também fecha 2009 satisfeita. “O primeiro semestre deste ano foi fraco, até mesmo por conta de todo o cenário mundial, mas este segundo está sendo bom e a recuperação do mercado igual os resultados aos do ano anterior”, avalia o gerente comercial da empresa, Luis Alberto Lopes.

Já a Emerson obteve desempenho pior em comparação ao do ano anterior, mas deve concluir 2009 com resultados acima de suas previsões iniciais. “Vínhamos de um longo período de crescimento econômico, interrompido este ano devido à crise que afetou todos os segmentos, direta ou indiretamente. Apesar de toda a preocupação com os resultados que tínhamos em janeiro e da queda de produção na indústria no início do ano, o Brasil mostrou uma rápida recuperação e poderemos fechar o ano com um resultado muito melhor do que esperávamos”, comemora o supervisor de marketing e vendas da empresa, Marcos Eduardo de Almeida.

Igualmente positivo foi o ano da Multivac, de acordo com o seu diretor Roberto van Hoorn. “Ele nos reservou diversos desafios, mas fazendo o balanço agora conseguimos um resultado satisfatório, já que batemos metas ambiciosas estabelecidas no final de 2008”, salienta.

A Embraco é outra que não alimentava perspectivas muito otimistas a princípio, mas se surpreendeu com a rápida reação da economia brasileira. “Este ano está terminando com resultados melhores do que havíamos previsto no início de 2009, quando estávamos no auge da crise financeira e tínhamos uma expectativa de cenário mais pessimista”, assinala o gestor corporativo de vendas para aplicações comerciais, Ernani Pautasse Nunes Júnior.

“Entretanto, o mercado de compressores está apresentando uma recuperação gradual da demanda desde setembro.

Estamos trabalhando com jornada normal de trabalho e até contratamos funcionários temporários para atender ao aumento de pedidos neste final de ano”, acrescenta o profissional.

A Full Gauge, por sua vez, superou resultados. “Desde o ano passado estamos conquistando clientes que eram da concorrência nos mais diversos segmentos, devido a uma política de atuação consolidada e agressiva. Crescemos 6,5% agora em 2009, sendo que nos últimos três meses tivemos um crescimento ainda maior do que o previsto”, informa o diretor da empresa, Antonio Gobbi.

Outra empresa que tem motivos de sobra para fazer um balanço positivo é a LG Electronics. “Este ano está sendo excelente para nós devido ao aumento crescente e constante nas vendas da área de refrigeração e ar condicionado”, ressalta seu gerente nessa área, Mauro Apor. “A recuperação da economia e o fato de o Brasil não ter sofrido tanto quanto outros países fizeram com que tivéssemos investimentos em nossa região”, completa.

Mesmo sofrendo os efeitos da crise econômica, a Elgin Ar Condicionado também encerra o ano com uma substancial expansão. “Devemos concluir 2009 com resultados acima de 30% em relação ao ano anterior”, afirma o gerente de marketing e serviços da empresa, Alexandre Faraco de Souza.

GARGALOS OFICIAIS

Embora, de um modo geral, tenham desempenhado bem o seu papel no cenário econômico nacional neste ano, as empresas do HVAC-R toparam com alguns empecilhos conjunturais que atrapalharam sua vida.

“A maior dificuldade, como sempre, foi a briga por preço no nosso setor, pois ainda fazemos muito leilão para ganhar uma margem pequena de lucro”, opina Paulo Neulaender Jr, diretor técnico-ambiental da Scarceli Refrigeração.

Já o diretor comercial e industrial da Aquaplus, Cezar Alexandre Cardoso, ressalta outros problemas. “A competição de produtos importados, muitas vezes de pior qualidade, atrelada à crise mundial e à alta carga tributária que nos é imposta, impediu um resultado melhor”, acentua.

A mesma observação é feita pelo gerente operacional da Sictel e Rafael Munhoz, para quem o governo deveria intensificar a política de redução de impostos, a fim de tornar os produtos brasileiros mais competitivos. “Da mesma forma que os chineses estão cada vez mais fortes, a indústria nacional vai ficando para trás, porque não consegue competir com os impostos praticados lá fora”, constata.

Para o diretor executivo da Climoar, Manoel Carlos dos Santos, o relacionamento do comércio com a indústria tem piorado a cada ano. “Os fabricantes estão cada vez mais querendo monopolizar o mercado e isso acaba nos prejudicando”, critica.

As recentes mudanças no sistema tributário envolvendo a crescente informatização do fisco brasileiro são lembradas como entraves consideráveis no Frio.

“O ramo de refrigeração está sofrendo com a recente introdução da Substituição Tributária, não muito clara para todos. Logo virá a NF-e e há uma pressão fiscal desmedida no setor.

Sentimos que isso em nada contribui para fortalecer nossa área, ainda à espera de uma real reforma para, antes de qualquer coisa, simplificar a cobrança de tributos”, pontua o diretor de vendas da divisão Refrigeração e Ar Condicionado da Danfoss do Brasil, Peter Young.

O gerente comercial da Instrutherm, Sergio Prezzoti, também demonstra descontentamento com as novas sistemáticas fiscais. “Além da Nota Fiscal Eletrônica ter complicado a vida das empresas, o site da Secretaria da Fazenda tem suas limitações e acaba dificultando, ao invés de facilitar o processo de venda”, critica.

Central, segundo ele, demorou demais para baixar a taxa Selic. “Na nossa visão, se a redução viesse dois meses antes, certamente o golpe sofrido pela economia não teria sido tão intenso”, opina.

ACERTANDO O RUMO

Diante dos inúmeros imprevistos próprios de um período de crise na economia, diversas empresas do setor foram obrigadas a implantar medidas emergenciais, ou simplesmente mudar as estratégias previstas para o ano, a fim de se manterem competitivas em seus respectivos mercados de atuação.

“Além de investir no lançamento de novos produtos e na consolidação do Centro de Distribuição no Nordeste, demos continuidade aos investimentos em formação de mercado e profissionais do setor, e também seguimos participando de eventos e feiras”, relata o diretor de vendas e marketing da Armacell para Brasil e Mercosul, Arnaldo Basile.

Diversificação foi a aposta da Asten, por sua vez, para passar bem pelo cenário econômico negativo. “Ampliamos nossa linha de produtos e esperamos colher os resultados disso nos próximos anos”, conta o gerente de vendas da empresa, Maurício Guilhem.

A Ebone percorreu vias parecidas. “Evitamos gastos desnecessários e investimos em novos produtos que não dependessem somente do clima do País, que não nos favoreceu muito este ano”, explica o supervisor de vendas da empresa, Fábio Miranda.

Lançamentos também deram o tom do segundo ano de atividades da RAC Brasil. “Conseguimos aumentar o número de clientes”, frisa o administrador de vendas da empresa, Nilton Laureano de Freitas.

Já a Ananda Metais buscou novos mercados vinculados à construção civil e projetos especiais, diferenciais de qualidade na montagem final, indo conforme explica o diretor comercial da empresa, Mário Costa Neto. “Executamos diversas obras referenciais nos segmentos de frigorífico, laboratórios e salas limpas, com presença marcante também em obras hospitalares e da indústria automobilística”, destaca.

Igualmente comprometida com a inovação, a Sell-Parts desenvolveu um laboratório técnico“ para cada vez mais mostrar a certificação dos nossos produtos e equipamentos e ter uma gama maior de soluções diferenciadas a oferecer”, salienta o diretor de marketing da empresa, Fernando Sandini.

A Microblau foi outra que trouxe novidades ao mercado, visando ampliar a sua atuação no cenário nacional. “Desenvolvemos o G5, recurso que pode ser utilizado em todas as nossas aplicações e que facilita a gestão da manutenção e tomada de decisões de forma simples e rápida”, comenta a diretora de marketing da empresa, Luciana Kimi.

Para a diretora geral da ebm-papst, Adriana Belmiro da Silva, o período de recessão contribuiu para que a empresa se aproximasse ainda mais de seus clientes. “A crise nos ajudou a entender melhor a demanda real do mercado, e hoje estamos cada vez mais próximos dele para atender suas perspectivas”, explica a executiva, para quem essa postura tem sido pródiga em evitar falhas de fornecimento.

A preocupação em manter os estoques sempre recheados também tem sido recorrente na trajetória da Polipex, o que a permitiu repassar ao mercado os benefícios da baixa no custo das matérias primas à base de petróleo. “Com isso, foi possível manter melhores preços para os nossos produtos, fator que contribuiu para que superássemos em cerca de 20% o volume de vendas de 2008”, assinala o diretor presidente da empresa, John Johannes Van Mullem.

A Vulkan, por sua vez, desenvolveu novas relações. “Fechamos mais uma parceria importante na distribuição de tubos de alumínio com a HYdro, uma das empresas mais renomadas neste mercado”, comemora a coordenadora de negócios e marketing da empresa, Bia Guedes.

Estratégia semelhante foi adotada pela Dahll, que retomou a sua atividade no setor de refrigeração. “Procuramos intensificar o trabalho principalmente de divulgação, com a consolidação das nossas marcas e da parceria com a Soler Paul, uma das grandes fabricantes na área de ventilação”, revela o diretor da empresa, José Ramon Acea.

Se as empresas do HVAC-R, de um modo geral, acabaram impedidas de registrar altos índices de crescimento, ao atravessar mais um período turbulento da economia brasileira, trataram de buscar novos meios. Resultado: vão terminando o ano muito mais maduras e fortalecidas em comparação ao final de 2008, reunindo plenas condições de alcançar níveis de expansão muito mais consistentes de agora em diante.